Patrícia Moreira, uma infeliz no meio de
tantos outros. A torcedora estava no lugar errado, na hora errada,
fazendo a coisa errada. Teve a infelicidade de ter uma câmera focada em
seu rosto exatamente no momento de ira em que proferia a tão ofensiva
palavra: MA-CA-CO!
Patrícia está longe de ser inocente e suas declarações uma semana
após o ocorrido me fizeram ter ainda mais certeza disso. Após depoimento
à polícia, a gremista fez um pronunciamento com a presença da mídia,
iniciando sua fala com “eu queria pedir desculpas”. Desculpas para o
goleiro Aranha do Santos? Aos milhões de negros brasileiros? Aos seus
pais que talvez tenham ficado chocados com a atitude? Não, Patrícia
pediu desculpas para “a nação tricolor”, isso mesmo, a maior preocupação
dela no momento era a punição sofrida pelo clube no dia anterior
(multado em 54 mil reais e excluído do campeonato). Chorou, pediu
desculpas também ao goleiro e se defendeu do indefensável. Segundo ela, a
atitude foi motivada pelo calor do jogo, pela raiva momentânea em
função da derrota de seu time. Patrícia, times ganham e perdem todos os
dias no Brasil, quase sempre com negros em campo. Ao contrário do que o
Luciano Huck vende por aí, não somos e eles não são macacos.
A punição imposta pela justiça desportiva foi cômoda para muita
gente. Santos, mídia e o Grêmio não tem do que reclamar. Mas será que a
pena seria imposta pelo STJD seria a mesma se o resultado da partida
fosse minimamente favorável aos tricolores? O Santos apenas antecipou
sua classificação já muito bem encaminhada na vitória por 2x0 no Rio
Grande do Sul. A mídia (em todos os seus noticiários, programas
esportivos e até de entretenimento) teve pauta para muitos dias. E o
Grêmio? Evitou um vexame maior em campo e, de certa forma, transferiu a
responsabilidade da eliminação para parte da torcida, preservando assim
comissão, técnica, jogadores e diretoria.
A Geral do Grêmio, torcida localizada no setor de onde partiram os
atos contra Aranha, é conhecida pelos cânticos racistas, nazistas e de
um humor negro um tanto quanto questionável. Se o Brasil conhece a fama
da torcida organizada, a diretoria do clube não? É o que parece pelas
atitudes dos mandatários do time gaúcho, que tem se mostrado quase tão
vítimas quanto o goleiro do clube paulista. O Grêmio está profundamente
triste pelos acontecimentos e espera punição aos responsáveis... mas só
agora, Grêmio? Onde estava sua preocupação nos últimos 5, 10 anos,
quando esta mesma torcida cantava aos “macacos” colorados a cada
Gre-Nal?
O que os olhos (da grande mídia) não veem, o coração (ou o bolso do Grêmio) não sente.
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