12 de setembro de 2014

Aranhas e macacos

Patrícia Moreira, uma infeliz no meio de tantos outros. A torcedora estava no lugar errado, na hora errada, fazendo a coisa errada. Teve a infelicidade de ter uma câmera focada em seu rosto exatamente no momento de ira em que proferia a tão ofensiva palavra: MA-CA-CO!


Patrícia está longe de ser inocente e suas declarações uma semana após o ocorrido me fizeram ter ainda mais certeza disso. Após depoimento à polícia, a gremista fez um pronunciamento com a presença da mídia, iniciando sua fala com “eu queria pedir desculpas”. Desculpas para o goleiro Aranha do Santos? Aos milhões de negros brasileiros? Aos seus pais que talvez tenham ficado chocados com a atitude? Não, Patrícia pediu desculpas para “a nação tricolor”, isso mesmo, a maior preocupação dela no momento era a punição sofrida pelo clube no dia anterior (multado em 54 mil reais e excluído do campeonato). Chorou, pediu desculpas também ao goleiro e se defendeu do indefensável. Segundo ela, a atitude foi motivada pelo calor do jogo, pela raiva momentânea em função da derrota de seu time. Patrícia, times ganham e perdem todos os dias no Brasil, quase sempre com negros em campo. Ao contrário do que o Luciano Huck vende por aí, não somos e eles não são macacos.

A punição imposta pela justiça desportiva foi cômoda para muita gente. Santos, mídia e o Grêmio não tem do que reclamar. Mas será que a pena seria imposta pelo STJD seria a mesma se o resultado da partida fosse minimamente favorável aos tricolores? O Santos apenas antecipou sua classificação já muito bem encaminhada na vitória por 2x0 no Rio Grande do Sul. A mídia (em todos os seus noticiários, programas esportivos e até de entretenimento) teve pauta para muitos dias. E o Grêmio? Evitou um vexame maior em campo e, de certa forma, transferiu a responsabilidade da eliminação para parte da torcida, preservando assim comissão, técnica, jogadores e diretoria.

A Geral do Grêmio, torcida localizada no setor de onde partiram os atos contra Aranha, é conhecida pelos cânticos racistas, nazistas e de um humor negro um tanto quanto questionável. Se o Brasil conhece a fama da torcida organizada, a diretoria do clube não? É o que parece pelas atitudes dos mandatários do time gaúcho, que tem se mostrado quase tão vítimas quanto o goleiro do clube paulista. O Grêmio está profundamente triste pelos acontecimentos e espera punição aos responsáveis... mas só agora, Grêmio? Onde estava sua preocupação nos últimos 5, 10 anos, quando esta mesma torcida cantava aos “macacos” colorados a cada Gre-Nal?

O que os olhos (da grande mídia) não veem, o coração (ou o bolso do Grêmio) não sente.

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